quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

Quando os caminhos de duas "doces pimentas" se cruzam.


Apresentação em programa de TV em 1978, com Elis Regina e Rita Lee cantando juntas a canção "Doce Pimenta", composição de Rita e Roberto de Carvalho.



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Rita Lee, a roqueira



Em 1976, a nossa roqueira-mor Rita Lee, já com sua banda Tutti Frutti, reconhecida nacionalmente depois do sucesso de canções como "Ovelha Negra", "Fruto Proibido" e "Agora só falta você", e com 3 LPs lançados, conhece aquele que viria a ser seu parceiro musical e eterno namorado, o músico carioca Roberto de Carvalho... porém em agosto do mesmo ano, durante sua primeira gravidez e morando com Roberto, Rita foi presa por porte e uso de maconha. 


Na verdade, tal episódio, considerado um dos mais truculentos da história da ditadura militar, foi um ato do regime com a finalidade de “servir de exemplo à juventude da época”, já que a cantora havia alegado publicamente que tinha deixado de usar drogas por causa da gravidez e que o que foi encontrado na época seriam restos usados por amigos e frequentadores da casa.




Rita Lee em 1976.



Mesmo assim, Rita Lee foi condenada e ficou um ano em prisão domiciliar, precisando de permissões especias do juiz para sair de casa e fazer shows. Abalada e sem dinheiro, foi neste período que compôs com Paulo Coelho a polêmica “Arrombou a Festa”, música que criticava o cenário da MPB da época. O single bateu recordes de venda, com 200 mil cópias vendidas. Com o namorado definitivamente incorporado à banda, Rita fica livre da prisão domiciliar e, mesmo grávida, sai em turnê com o baiano Gilberto Gil


O show, denominado Refestança, foi registrado em disco, mas, segundo a própria cantora, resgatou apenas 30% da atmosfera do show. 


Rita dá à luz seu primeiro filho, Beto Lee em 1977, seguido por João em 1979, e Antônio em 1981, todos filhos de Roberto de Carvalho.




A família Lee





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Visita na prisão


Elis Regina, Roberto de Carvalho e Rita Lee




Em muitos blogs e sites de música se fala deste episódio em que Rita Lee foi presa... mas o que muitos não sabem e que a própria Ritinha um dia revelou através de uma composição sua, é que a única pessoa que a visitou na cadeia em 1976, fora ninguém menos que Elis Regina


Rita revelou muitos anos depois da morte de Elis que na época dos Mutantes, "a Pimentinha", apelido de Elis Regina, não lhe dava bola, chegando até a fingir que não lhe via quando passava por ela nos corredores dos festivais e dos programas de TV, que a turma de Elis não curtia o som que os Mutantes faziam, e que ambas não se conheciam pessoalmente... porém quando "ela"(a Rita) foi presa, e ainda grávida, quem aparece para fazer-lhe uma visita, acompanhada de seu filho João Marcelo, criança ainda, exigindo ver a roqueira, ameaçando chamar a imprensa caso não deixassem, e após conseguir, ainda exigiu que se chamasse um médico para Rita Lee na prisão?... sabe-se que Elis pressionou tanto as autoridades da época, que a prisão da roqueira foi "relaxada" e Rita pode cumprir então a pena a que fora condenada em domicílio.


Elis Regina não pára por aí, ainda encomenda músicas para Rita Lee e torna-se sua amiga... conta Rita Lee, que "a Pimentinha" a chamava de Maria Rita, nome que viria dar a sua filha, que nasceria em 1977.



Em 1978, Rita Lee compõe com seu marido, Roberto de Carvalho, "Doce Pimenta", uma canção para Elis, e ambas cantam juntas esta canção em um especial para a TV neste mesmo ano.





A Letra

"Doce Pimenta" - Rita Lee e Roberto de Carvalho

Cada um vive como pode
E eu não nasci pra sofrer
Cara feia pra mim é fome
E eu não faço manha pra comer
A vida é como uma escola
E a morte é o vestibular
No inferno eu entro sem cola
Mas o céu eu vou ter que descolar
Mas quando alguém precisa de um carinho meu
Não há nada que me prenda
Mas se eu sentir que um bicho me mordeu
Sou mais ardida que pimenta!
No fundo eu sou otimista
Mas eu sempre penso o pior
Me cansa essa vida de artista
Mas cada vez o prazer é maior





O depoimento de Rita Lee sobre Elis Regina



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Outro episódio de Rita na prisão



Em outra ocasião mais recente, em 28 de janeiro de 2012, em Barra dos Coqueiros, região da grande Aracaju, no Festival de Verão de Sergipe, Rita Lee também foi detida após encerrar o seu show, no qual a Policia Militar do estado alegava segundo testemunhas, que fora insultada sem justificativas pela cantora, razões a parte.


Rita Lee foi liberada logo em seguida, e dias depois, Roberto de Carvalho publicou em sua página no Facebook, um texto comparando o episódio atual com o de 1976, em que dizia que "Elis Regina, que teria ajudado Rita a sair da cadeia, assim como a vereadora Heloísa Helena fez em Aracaju, 'Quando entrei na sala do delegado, estavam os policiais com a Rita e dei de cara com a Heloisa Helena. Tive um flash incrível de 1976, quando a Elis foi ao DEIC defender a Rita daquela prisão absurda'.".


E Roberto ainda diz que "(Foi) como se os dois fatos, com mais de 30 anos de distância entre si, estivessem estampados em duas cartas diferentes sobre a mesa, e uma linha mágica e invisível ligasse essas duas mulheres incríveis em um mesmo pensamento, em uma mesma ação, tornando-as irmãs gêmeas em um ato de desprendimento, coragem, e acima de tudo, fraternidade. Foi muito emocionante, altamente impactante".


Heloísa Helena usou seu perfil no Twitter no domingo, 29 de janeiro de 2012, para reafirmar seu apoio a cantora Rita Lee, "Chegando de Aracaju após lamentável e triste acontecimento na tentativa de Rita Lee em promover uma linda despedida de palco. Aceito democraticamente ferozes críticas recebidas, mas entre a ‘contabilidade de seguidores’ e minha Consciência em relatar o que vi", escreveu Heloísa Helena, "Ficarei sempre com minha consciência e nunca na comodidade do silêncio! O assunto está na Justiça e por obrigação moral vou testemunhar! O que aconteceu? Eu estava bem pertinho e vivenciei... Vi e ponto!!!"


A ex-senadora terminou dizendo que "vou testemunhar em defesa da Rita Lee como faria diante de qualquer injustiça a policial, catador de lixo, morador de rua".




Heloisa Helena, em defesa de Rita Lee

     

Segundo o jornal Folha de São Paulo, a ocorrência contra Rita Lee foi registrada como "desacato e apologia ao crime ou ao criminoso (art. 287 do Código Penal)".

No boletim, a cantora disse que "todo o ocorrido se deu como uma reação emocional, provocada pela ação truculenta desnecessária" da Polícia Militar.

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